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A profundeza do gesto no meu corpo: os passos, um, dois, o peso desse corpo, os braços na direção do chão, a barriga e esses peixes amarelados, margeados, estas paredes de contenção que se rompem em escamas. Escutei a morte aqui e aqui guardo, nesses pés, nesses caminhos, nesses ossos. Procuro encontrar a temperatura do meu corpo. A morte está aqui, nesses dedos tortos, grossos, sem tato, nessa pele que se solta, nessa água que corre em mim, suja, morta, cheia. Um rio. Escutei sua massa caindo, correndo pelo córrego das corujas, pelo água preta. Escutei a vida que se acumula e que me escapa e que me engole. E a gente é útil, às vezes, e a gente come, às vezes, e a gente guarda e às vezes a gente anda ancorado nessas vozes todas meio nossas, meio deles, nesses peixes presos na garganta, no ar, Carrego, nesse corpo, nesse terreno escuro, nesses meus mortos que se sobrepõem, nos meus eixos, nos meus nós, meus interstícios, um campo de batalha. 

O Butô, dança japonesa dos anos 60, constituída pela incorporação das margens, dos homens e mulheres mantidos às margens, das águas profundas,  do lugar da acumulação e dos residuos, das inundações e abandonos aparece no Submersa a partir da performance de Priscilla Young. Os rios represados, mortos-vivos, prontos para eclodir, carregados de memória e dor, que passam por baixo da cidade toda falam e escutam. Falam das nossas escolhas de planejamento de cidade, de ritmo de vida, falam dos nossos mortos, do nosso silêncio político, das nossas lutas. Na performance, a força das lamas, das águas escuras, desse estado limítrofe entre vida e morte surge e se deloca pela história da personagem Ana.  

BUTÔ

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